Foi a primeira vez que senti esta coisa de ter passado um semestre, meio ano, um período e meio, 6 meses numa escola. Em Janeiro tudo trabalha, em Fevereiro tudo pára. Os austríacos visitam a família, metade dos erasmus despedem-se da cidade de vez, mistura-se confusão e loucura com amargura e uma espécie de uma saudade antecipada. Ainda é estranho de aceitar isto de 'ser temporário', frágil, volátil ao comando de algo que não é bem o tempo.
A Zeichensaal despede-se fisicamente de mesas e suportes de trabalho com mais de 50 anos, aquelas que lhe deram história. O chão mudará, as cadeiras mudarão, a tinta das paredes desaparecerá, só o som é que não, nem o amanhecer, espero, aquele que parece o de um Bolhão sem pombas, de sol rasante e silencioso. Hoje é dia de festa, bebendo e pisando em dança aqueles que eram os lugares onde sentávamos horas a fio, mas agora sem nada além de um quadriculado de linóleo gasto e leal ao cruzamento perpétuo de pensamentos que partilhamos. É uma espécie de primeiro adeus, desgastante. Ainda assim, tenho sentido que, por aqui, nada se tem perdido, antes tudo se tem transformado.
Os últimos momentos em Oslo foram uma loucura pelo trabalho no studio, montagem da exposição final, farewell dinner parties, festas de Natal várias, saídas intermináveis à noite e o pesadelo de decidir que pedacinho de vida transportava na mala para viver estes 15 dias em Portugal. Tudo isto atrasou os vários posts que tencionava fazer, mas como mais vale tarde do que nunca, aqui fica o de dia 13 de Dezembro:
Entwega - done!
"Power lines as a generator" by Marek Kundrata & Ricardo Sousa. Turning the negative effects of the high voltage power lines into generators of urban development.
Urban Design - The Scandinavian City Studio, AHO, Autumn 2010. Scale 1/1100, 90cmx1050cm
O tempo passa, e tudo se vai somando, as experiências, os amigos, as festas, o trabalho, o frio, os sonhos, a saudade. É algo especial 'estar longe', de tão bom e difícil que é ao mesmo tempo. Pois vos queria deixar com uma pequenina história, ou simples sentimento, já que resumir vários meses é tão complicado. Um fim-de-semana, algures entre o final do Outono, tive uma disciplina que foi dada no meio das montanhas. Fomos 20 estudantes e um professor para uma pequena cabana ao lado de um rio, e em três dias íamos começar e terminar uma aula que nem sabíamos de que ia tratar. O sentimento de perdido desconfiava-me, e à medida que o tempo ia passando estava a ser conquistado, mais do que poderia saber. Naquele lugar sem internet falamos livremente de arquitectura, ao mesmo tempo que cozinhávamos, dormíamos e bebíamos cerveja. Cruzávamos e discutíamos investigações de cada um ao mesmo tempo que lavávamos o tacho de risotto. Na verdade, acho que o tempo não existia. Quando dei por ela, não conseguia escalar mais uma colina na fronteira do sol e da sombra, e só o professor estava ao meu lado, ao que decidiu começar a discutir com toda a calma do mundo o meu trabalho.
Na última semana, lembrava o quão importante era este sentimento quando preparávamos bacalhau para 30 pessoas na véspera da pequena entrega de projecto. Era um jantar de natal para toda a gente da sala de desenho, na verdade tão importante quanto apresentar os trabalhos na parede. Naquela sala, a zeichensaal, as mesas de jantar são estiradores, e juntam-se quantas forem precisas para as pessoas que estiverem. Assim aconteceu no meu último dia de aulas, antes de ver a família mas já com aletria e sopa doce. Desenhar e cozinhar, na verdade, é a mesma coisa, se o importante for aquilo que se discute e partilha em grupo.
Bom natal a todos, vemo-nos quase todos daqui a pouco